sexta-feira, 12 de novembro de 2010

BRUXARIA, ERROS E ACERTOS


O contato com o divino é um direito e uma herança do ser humano. Séculos de opressão procuraram nos convencer de que a divindade é inatingível, ou que apenas poucos iluminados teriam acesso a ela. Nada poderia estar mais distante da realidade.
O aspecto feminino do ser humano (yin), hoje conhecido como inteligência emocional, é o que possibilita o contato de uma pessoa com as realidades maiores da vida. Foi duramente combatido durante séculos de racionalismo e, nos dias de hoje, necessita ser resgatado com a maior urgência. Esse aspecto feminino não está presente somente na mulher, mas também no homem.
A busca espiritual, antes representada como o contato direto com a divindade, manifestada em visões e sonhos (assuntos femininos), passou ao campo da especulação filosófica e de uma vã erudição, que até podia ter um aspecto intelectual e cultural, mas não saciava a sede da alma. Assim, quanto mais se buscavam conceitos e idéias elaboradas, mais a busca se tornava. A ciência foi alcançando um status quase religioso, decretando que não se podia acreditar naquilo que ela não pudesse provar. Ou seja, antes de Newton formular a Lei da Gravidade, as maçãs não poderiam cair, ou isso seria um mero acaso.
As noções de beleza, de prazer, do valor real das coisas, das relações humanas foram sendo suprimidas e o contato com o divino ficou restrito a uma mera freqüência à igreja nos fins de semana. A vida como um todo perdeu sua riqueza. Daí a depredação da natureza, o descaso com as discrepâncias sociais, as guerras e outras mazelas de nosso tempo, que se tornaram meros assuntos de noticiário, sem causar grandes reações emocionais: o mais importante tinha se perdido, faltando propósito e coerência.
A bruxaria é a religião mais antiga da humanidade, com origens remontando à pré-história. Ela reverencia a presença divina tanto em seu aspecto masculino como feminino, inerente na natureza. Por valorizar o poder feminino, foi perseguida e, hoje, corre outro risco terrível. Se antes um sistema patriarcal emergente usou a força bruta para tentar destruir a religião e a possibilidade de um contato direto com a divindade, deixando os atributos femininos relegados a um segundo plano, hoje o mesmo sistema procura agir com nova estratégia diante do renascer da antiga religião.
A banalização é uma verdadeira ameaça, pois o mundo de hoje está tão desligado de tudo que as pessoas nem se dão conta da seriedade dessa nova oportunidade. Então, pipocam grandes iniciados, ensinando a religião em algumas aulas e fornecendo certificados como se o contato com o divino e suas práticas fossem meras fórmulas para serem usadas eventualmente conforme as necessidades de cada um, para obter amor, dinheiro, poder, etc.
Ora, não se pode aprender bruxaria como modismo. Para entender isso basta uma simples reflexão: com que propósito uma religião de tantos mártires teria resistido até os dias de hoje? A resposta é simples: nela existe um poder maior.

A Banalização
Em primeiro lugar, existe um legítimo anseio da alma muito evidente nos dias de hoje, pois a sociedade patriarcal conseguiu chegar a um ponto crítico. Porém, o descompromisso já está de tal forma enraizado nas pessoas que mesmo essa busca acaba maculada por um certo descaso. Em outras palavras: hoje em dia até as religiões podem ser vistas como livros numa prateleira. Com a mesma liberdade com que se lêem livros sagrados e ensinamentos secretos de outras tradições, também é possível encontrar manuais que trazem tudo sobre a religião Wicca (o nome moderno dado à bruxaria). E imbuídos do ranço do consumismo, acreditamos que nos entupindo de informações preencheremos nosso anseio de alma.
O erro de confundir realização do espírito com erudição é uma forma de banalização, uma forma masculina (inteligência racional) de dominar determinado assunto, de ler tudo a respeito e achar que isso é busca espiritual. A experiência mística é um dos maiores anseios do ser humano. Na verdade, a experiência do sagrado, a reverência à manifestação divina presente em todas as coisas e seres é mais do que um temer a Deus. É amá-lo.
Além disso, a bruxaria não se restringe meramente à prática da magia. Aliás, essa visão da bruxaria associada à magia e, em especial à magia negra, foi o fundamento de toda a perseguição que os feiticeiros sofreram. A origem inglesa da palavra ‘bruxa’, witch, é a mesma de ‘sábio’, wise, e isso representa uma diferença fundamental, pois a sabedoria não se ensina em manuais, nem se adquire em poucos meses.
Para um bruxo/a, a magia está presente em tudo e, antes de se pretender a praticá-la, é preciso reconhecê-la na Natureza, sintonizando-se com seus ciclos. Também é preciso resgatar o poder pessoal, o que é feito com disciplina e disposição de mudar velhos hábitos e renunciar às comodidades que as interferências externas propiciam. Sem esse poder pessoal não há como obter domínio sobre os elementos. É preciso muito merecimento para alcançar a graça dos seres que nos auxiliam e, quando isso é obtido, um cuidado ainda maior é preciso, pois seremos triplamente responsáveis pelos deslizes cometidos através da magia.
A bruxaria é uma religião sacerdotal e o aspirante precisa primeiro desenvolver a sabedoria. Também deve passar por diversos desafios e testes em sua vida pessoal, além de todo o aprendizado sobre as plantas, ciclos cósmicos e as leis vigentes nos três mundos em que deverá atuar. Após longo treinamento, a pessoa finalmente se encontra apta a ser iniciada. A verdadeira iniciação é conferida pela divindade, mas é celebrada num rito em que o bruxo se assume como tal e recebe as responsabilidades de sua posição perante os seres divinos e seus ancestrais. A mera freqüência a um curso, ou a participação em rituais, não gera nenhum iniciado. Isso também é uma banalização.

Resgate de Poder
Algumas pessoas alegam que a maior popularização favorece um maior esclarecimento, que quando todos tiverem acendido uma vela numa lua cheia já não se usará a palavra bruxa pejorativamente. Porém, existe algo mais sério por trás disso, que é o resgate do poder feminino e a cura da Terra.
Existem pessoas realmente ansiosas por se reconectarem com o divino, que trazem em sua bagagem espiritual a prática da bruxaria de outras vidas. Pessoas que, não encontrando meios sérios para se desenvolverem, acabam achando que até mesmo a Antiga Religião se corrompeu, e isso não é verdade.
O resgate do poder feminino é hoje uma urgência para a humanidade. As pessoas, inclusive mulheres, se perdem num ambiente competitivo, ganancioso e sem propósito, enganam-se com passatempos que vão de futebol a sexo, sem o real prazer, a verdadeira beleza, o envolvimento, o compromisso e a reverência.
Quando os valores reais são banalizados, a vida em si perde seu valor. Quando o aspecto feminino é depreciado, tanto homens quanto mulheres saem perdendo — as pessoas começam a neutralizar seus sentimentos, preocupando-se exclusivamente com realizações e ganâncias, em exercer poder sobre os outros. Para renegar seu próprio aspecto feminino o homem precisa se anestesiar com bebidas, drogas, excesso de trabalho, de sexo, etc, uma vez que, para fugir de seu anseio de se reconectar com o divino e se identificar com seu propósito de alma, é preciso se entreter com outras coisas, mesmo que sejam vazias e sem propósito.
A bruxaria oferece uma possibilidade de resgatar esse poder, desde que praticada de forma correta. Esse poder não é erudição, não é ter uma espada ou dominar outras pessoas, mas sim o resultado de uma parceria na qual a divindade concede a um ser humano a possibilidade de mediar seu próprio poder — o que só é obtido com muito mérito e não simples fórmulas. Tal poder só pode ser usado com sabedoria e, aliás, é esse o significado do Athame (punhal com dois gumes), símbolo de força que usamos para nunca nos esquecer de que o poder é uma faca de dois gumes.
Uma vida bruxal, coerente, por si só já é uma realização para qualquer bruxa. É poder enxergar a beleza em tudo, que é a manifestação divina. É perceber que estamos cercados de criaturas que nos amam e estão dispostas a nos auxiliar. É distinguir o real do efêmero neste mundo. É saber ouvir e ter consciência de que amar a natureza não é apenas plantar uma árvore, mas respeitar o ser que nela habita — é saber que, assim como nós, esse ser tem uma sabedoria própria, e merece viver e trocar sua experiência de vida conosco.

Os Riscos
Além da banalização — que rouba a possibilidade das pessoas realmente motivadas encontrarem um senso de direção e propósito, criando a idéia de que nada é de verdade —, temos outros riscos que dela decorrem:
1 – O risco de não ter nada sagrado, respeitado.
2 – A perda da fé e do senso de propósito.
3 – As práticas ritualísticas realizadas de forma errada podem acarretar respostas adversas do plano espiritual, que não gosta de desrespeito, como, por exemplo, atrair obsessores e outras entidades astrais.
4 – Perda do contato com o divino, perda da intuição, não mais receber sinais, avisos e orientações.
5 – O uso de magia para vinganças, acarretando a Lei Tríplice, lei do retorno.
6 – Quebra de defesas naturais contra ataques espirituais — ou seja, se alguém se intitula bruxo sem o ser, o plano espiritual pode deixá-lo órfão numa situação negativa para que aprenda a respeitar o que não conhece.
Quando se fala na banalização muitos perguntam se a auto-iniciação é uma forma de banalização. Isso depende. Com a dificuldade de se encontrar um coven, a auto-iniciação pode ser a única forma de se adotar a religião, porém, é um caminho mais árduo, pois sem uma supervisão os erros correm por conta própria. Os livros não esgotam todas as possibilidades dentro da atividade de um bruxo e, se este se auto-inicia, pretendendo ser um praticante solitário, terá de aprender sozinho. Com sorte, os seres que o auxiliam podem inspirá-lo em sonhos e visões, desde que seja coerente e dedicado.
O maior risco da auto-iniciação, contudo, é que ela inicia mesmo. As pessoas leigas pensam que ser iniciado é como se formar um doutor, algo que as autoriza a usar um nome de bruxo/a e ter atitudes exóticas. Porém, a iniciação é a entrega, o momento em que se assume um compromisso perante as divindades e os seres e, feita a iniciação, isso será cobrado, quer se esteja preparado ou não para o que tal comprometimento representa. A pessoa que não sabe o que esteja assumindo responde do mesmo modo como a que sabe e, se descumpre o prometido, é punida. Por essas e outras razões a banalização chega a ser algo quase criminoso, pois muitas vezes assumem-se compromissos que irão comprometer a pessoa por muitas vidas.
A magia está renascendo, sim, e já não era sem tempo. De um lado existe a crise num sistema que renegou o poder feminino e está sedento; de outro, há o renascer da antiga religião, que na verdade só estava esperando um espaço para ressurgir. E, em meio a essa situação, encontram-se pessoas que pretendem transformar o que pode ser um antídoto para uma crise mundial de valores num artigo de consumo, num modismo. Nós, bruxas, esperamos que aqueles que têm sede encontrem a fonte e que à vida seja dado seu real valor.
Que assim seja e assim se cumpra. Sejamos todos abençoados.

Para Saber Mais:
Wicca Cia. das Bruxas
www.wiccaciadasbruxas.com.br

Nos dias de hoje, a banalização da bruxaria vem acontecendo de forma crescente, indicando um momento de perda de valores fundamentais e a utilização das religiões como resposta fácil e simplista para os problemas do dia-a-dia.

Marília de Abreu e Antônia Maria de Lima

O contato com o divino é um direito e uma herança do ser humano. Séculos de opressão procuraram nos convencer de que a divindade é inatingível, ou que apenas poucos iluminados teriam acesso a ela. Nada poderia estar mais distante da realidade.
O aspecto feminino do ser humano (yin), hoje conhecido como inteligência emocional, é o que possibilita o contato de uma pessoa com as realidades maiores da vida. Foi duramente combatido durante séculos de racionalismo e, nos dias de hoje, necessita ser resgatado com a maior urgência. Esse aspecto feminino não está presente somente na mulher, mas também no homem.
A busca espiritual, antes representada como o contato direto com a divindade, manifestada em visões e sonhos (assuntos femininos), passou ao campo da especulação filosófica e de uma vã erudição, que até podia ter um aspecto intelectual e cultural, mas não saciava a sede da alma. Assim, quanto mais se buscavam conceitos e idéias elaboradas, mais a busca se tornava. A ciência foi alcançando um status quase religioso, decretando que não se podia acreditar naquilo que ela não pudesse provar. Ou seja, antes de Newton formular a Lei da Gravidade, as maçãs não poderiam cair, ou isso seria um mero acaso.
As noções de beleza, de prazer, do valor real das coisas, das relações humanas foram sendo suprimidas e o contato com o divino ficou restrito a uma mera freqüência à igreja nos fins de semana. A vida como um todo perdeu sua riqueza. Daí a depredação da natureza, o descaso com as discrepâncias sociais, as guerras e outras mazelas de nosso tempo, que se tornaram meros assuntos de noticiário, sem causar grandes reações emocionais: o mais importante tinha se perdido, faltando propósito e coerência.
A bruxaria é a religião mais antiga da humanidade, com origens remontando à pré-história. Ela reverencia a presença divina tanto em seu aspecto masculino como feminino, inerente na natureza. Por valorizar o poder feminino, foi perseguida e, hoje, corre outro risco terrível. Se antes um sistema patriarcal emergente usou a força bruta para tentar destruir a religião e a possibilidade de um contato direto com a divindade, deixando os atributos femininos relegados a um segundo plano, hoje o mesmo sistema procura agir com nova estratégia diante do renascer da antiga religião.
A banalização é uma verdadeira ameaça, pois o mundo de hoje está tão desligado de tudo que as pessoas nem se dão conta da seriedade dessa nova oportunidade. Então, pipocam grandes iniciados, ensinando a religião em algumas aulas e fornecendo certificados como se o contato com o divino e suas práticas fossem meras fórmulas para serem usadas eventualmente conforme as necessidades de cada um, para obter amor, dinheiro, poder, etc.
Ora, não se pode aprender bruxaria como modismo. Para entender isso basta uma simples reflexão: com que propósito uma religião de tantos mártires teria resistido até os dias de hoje? A resposta é simples: nela existe um poder maior.

A Banalização
Em primeiro lugar, existe um legítimo anseio da alma muito evidente nos dias de hoje, pois a sociedade patriarcal conseguiu chegar a um ponto crítico. Porém, o descompromisso já está de tal forma enraizado nas pessoas que mesmo essa busca acaba maculada por um certo descaso. Em outras palavras: hoje em dia até as religiões podem ser vistas como livros numa prateleira. Com a mesma liberdade com que se lêem livros sagrados e ensinamentos secretos de outras tradições, também é possível encontrar manuais que trazem tudo sobre a religião Wicca (o nome moderno dado à bruxaria). E imbuídos do ranço do consumismo, acreditamos que nos entupindo de informações preencheremos nosso anseio de alma.
O erro de confundir realização do espírito com erudição é uma forma de banalização, uma forma masculina (inteligência racional) de dominar determinado assunto, de ler tudo a respeito e achar que isso é busca espiritual. A experiência mística é um dos maiores anseios do ser humano. Na verdade, a experiência do sagrado, a reverência à manifestação divina presente em todas as coisas e seres é mais do que um temer a Deus. É amá-lo.
Além disso, a bruxaria não se restringe meramente à prática da magia. Aliás, essa visão da bruxaria associada à magia e, em especial à magia negra, foi o fundamento de toda a perseguição que os feiticeiros sofreram. A origem inglesa da palavra ‘bruxa’, witch, é a mesma de ‘sábio’, wise, e isso representa uma diferença fundamental, pois a sabedoria não se ensina em manuais, nem se adquire em poucos meses.
Para um bruxo/a, a magia está presente em tudo e, antes de se pretender a praticá-la, é preciso reconhecê-la na Natureza, sintonizando-se com seus ciclos. Também é preciso resgatar o poder pessoal, o que é feito com disciplina e disposição de mudar velhos hábitos e renunciar às comodidades que as interferências externas propiciam. Sem esse poder pessoal não há como obter domínio sobre os elementos. É preciso muito merecimento para alcançar a graça dos seres que nos auxiliam e, quando isso é obtido, um cuidado ainda maior é preciso, pois seremos triplamente responsáveis pelos deslizes cometidos através da magia.
A bruxaria é uma religião sacerdotal e o aspirante precisa primeiro desenvolver a sabedoria. Também deve passar por diversos desafios e testes em sua vida pessoal, além de todo o aprendizado sobre as plantas, ciclos cósmicos e as leis vigentes nos três mundos em que deverá atuar. Após longo treinamento, a pessoa finalmente se encontra apta a ser iniciada. A verdadeira iniciação é conferida pela divindade, mas é celebrada num rito em que o bruxo se assume como tal e recebe as responsabilidades de sua posição perante os seres divinos e seus ancestrais. A mera freqüência a um curso, ou a participação em rituais, não gera nenhum iniciado. Isso também é uma banalização.

Resgate de Poder
Algumas pessoas alegam que a maior popularização favorece um maior esclarecimento, que quando todos tiverem acendido uma vela numa lua cheia já não se usará a palavra bruxa pejorativamente. Porém, existe algo mais sério por trás disso, que é o resgate do poder feminino e a cura da Terra.
Existem pessoas realmente ansiosas por se reconectarem com o divino, que trazem em sua bagagem espiritual a prática da bruxaria de outras vidas. Pessoas que, não encontrando meios sérios para se desenvolverem, acabam achando que até mesmo a Antiga Religião se corrompeu, e isso não é verdade.
O resgate do poder feminino é hoje uma urgência para a humanidade. As pessoas, inclusive mulheres, se perdem num ambiente competitivo, ganancioso e sem propósito, enganam-se com passatempos que vão de futebol a sexo, sem o real prazer, a verdadeira beleza, o envolvimento, o compromisso e a reverência.
Quando os valores reais são banalizados, a vida em si perde seu valor. Quando o aspecto feminino é depreciado, tanto homens quanto mulheres saem perdendo — as pessoas começam a neutralizar seus sentimentos, preocupando-se exclusivamente com realizações e ganâncias, em exercer poder sobre os outros. Para renegar seu próprio aspecto feminino o homem precisa se anestesiar com bebidas, drogas, excesso de trabalho, de sexo, etc, uma vez que, para fugir de seu anseio de se reconectar com o divino e se identificar com seu propósito de alma, é preciso se entreter com outras coisas, mesmo que sejam vazias e sem propósito.
A bruxaria oferece uma possibilidade de resgatar esse poder, desde que praticada de forma correta. Esse poder não é erudição, não é ter uma espada ou dominar outras pessoas, mas sim o resultado de uma parceria na qual a divindade concede a um ser humano a possibilidade de mediar seu próprio poder — o que só é obtido com muito mérito e não simples fórmulas. Tal poder só pode ser usado com sabedoria e, aliás, é esse o significado do Athame (punhal com dois gumes), símbolo de força que usamos para nunca nos esquecer de que o poder é uma faca de dois gumes.
Uma vida bruxal, coerente, por si só já é uma realização para qualquer bruxa. É poder enxergar a beleza em tudo, que é a manifestação divina. É perceber que estamos cercados de criaturas que nos amam e estão dispostas a nos auxiliar. É distinguir o real do efêmero neste mundo. É saber ouvir e ter consciência de que amar a natureza não é apenas plantar uma árvore, mas respeitar o ser que nela habita — é saber que, assim como nós, esse ser tem uma sabedoria própria, e merece viver e trocar sua experiência de vida conosco.

Os Riscos
Além da banalização — que rouba a possibilidade das pessoas realmente motivadas encontrarem um senso de direção e propósito, criando a idéia de que nada é de verdade —, temos outros riscos que dela decorrem:
1 – O risco de não ter nada sagrado, respeitado.
2 – A perda da fé e do senso de propósito.
3 – As práticas ritualísticas realizadas de forma errada podem acarretar respostas adversas do plano espiritual, que não gosta de desrespeito, como, por exemplo, atrair obsessores e outras entidades astrais.
4 – Perda do contato com o divino, perda da intuição, não mais receber sinais, avisos e orientações.
5 – O uso de magia para vinganças, acarretando a Lei Tríplice, lei do retorno.
6 – Quebra de defesas naturais contra ataques espirituais — ou seja, se alguém se intitula bruxo sem o ser, o plano espiritual pode deixá-lo órfão numa situação negativa para que aprenda a respeitar o que não conhece.
Quando se fala na banalização muitos perguntam se a auto-iniciação é uma forma de banalização. Isso depende. Com a dificuldade de se encontrar um coven, a auto-iniciação pode ser a única forma de se adotar a religião, porém, é um caminho mais árduo, pois sem uma supervisão os erros correm por conta própria. Os livros não esgotam todas as possibilidades dentro da atividade de um bruxo e, se este se auto-inicia, pretendendo ser um praticante solitário, terá de aprender sozinho. Com sorte, os seres que o auxiliam podem inspirá-lo em sonhos e visões, desde que seja coerente e dedicado.
O maior risco da auto-iniciação, contudo, é que ela inicia mesmo. As pessoas leigas pensam que ser iniciado é como se formar um doutor, algo que as autoriza a usar um nome de bruxo/a e ter atitudes exóticas. Porém, a iniciação é a entrega, o momento em que se assume um compromisso perante as divindades e os seres e, feita a iniciação, isso será cobrado, quer se esteja preparado ou não para o que tal comprometimento representa. A pessoa que não sabe o que esteja assumindo responde do mesmo modo como a que sabe e, se descumpre o prometido, é punida. Por essas e outras razões a banalização chega a ser algo quase criminoso, pois muitas vezes assumem-se compromissos que irão comprometer a pessoa por muitas vidas.
A magia está renascendo, sim, e já não era sem tempo. De um lado existe a crise num sistema que renegou o poder feminino e está sedento; de outro, há o renascer da antiga religião, que na verdade só estava esperando um espaço para ressurgir. E, em meio a essa situação, encontram-se pessoas que pretendem transformar o que pode ser um antídoto para uma crise mundial de valores num artigo de consumo, num modismo. Nós, bruxas, esperamos que aqueles que têm sede encontrem a fonte e que à vida seja dado seu real valor.
Que assim seja e assim se cumpra. Sejamos todos abençoados.

Para Saber Mais:
Wicca Cia. das Bruxas
www.wiccaciadasbruxas.com.br

Nos dias de hoje, a banalização da bruxaria vem acontecendo de forma crescente, indicando um momento de perda de valores fundamentais e a utilização das religiões como resposta fácil e simplista para os problemas do dia-a-dia.

Marília de Abreu e Antônia Maria de Lima

O contato com o divino é um direito e uma herança do ser humano. Séculos de opressão procuraram nos convencer de que a divindade é inatingível, ou que apenas poucos iluminados teriam acesso a ela. Nada poderia estar mais distante da realidade.
O aspecto feminino do ser humano (yin), hoje conhecido como inteligência emocional, é o que possibilita o contato de uma pessoa com as realidades maiores da vida. Foi duramente combatido durante séculos de racionalismo e, nos dias de hoje, necessita ser resgatado com a maior urgência. Esse aspecto feminino não está presente somente na mulher, mas também no homem.
A busca espiritual, antes representada como o contato direto com a divindade, manifestada em visões e sonhos (assuntos femininos), passou ao campo da especulação filosófica e de uma vã erudição, que até podia ter um aspecto intelectual e cultural, mas não saciava a sede da alma. Assim, quanto mais se buscavam conceitos e idéias elaboradas, mais a busca se tornava. A ciência foi alcançando um status quase religioso, decretando que não se podia acreditar naquilo que ela não pudesse provar. Ou seja, antes de Newton formular a Lei da Gravidade, as maçãs não poderiam cair, ou isso seria um mero acaso.
As noções de beleza, de prazer, do valor real das coisas, das relações humanas foram sendo suprimidas e o contato com o divino ficou restrito a uma mera freqüência à igreja nos fins de semana. A vida como um todo perdeu sua riqueza. Daí a depredação da natureza, o descaso com as discrepâncias sociais, as guerras e outras mazelas de nosso tempo, que se tornaram meros assuntos de noticiário, sem causar grandes reações emocionais: o mais importante tinha se perdido, faltando propósito e coerência.
A bruxaria é a religião mais antiga da humanidade, com origens remontando à pré-história. Ela reverencia a presença divina tanto em seu aspecto masculino como feminino, inerente na natureza. Por valorizar o poder feminino, foi perseguida e, hoje, corre outro risco terrível. Se antes um sistema patriarcal emergente usou a força bruta para tentar destruir a religião e a possibilidade de um contato direto com a divindade, deixando os atributos femininos relegados a um segundo plano, hoje o mesmo sistema procura agir com nova estratégia diante do renascer da antiga religião.
A banalização é uma verdadeira ameaça, pois o mundo de hoje está tão desligado de tudo que as pessoas nem se dão conta da seriedade dessa nova oportunidade. Então, pipocam grandes iniciados, ensinando a religião em algumas aulas e fornecendo certificados como se o contato com o divino e suas práticas fossem meras fórmulas para serem usadas eventualmente conforme as necessidades de cada um, para obter amor, dinheiro, poder, etc.
Ora, não se pode aprender bruxaria como modismo. Para entender isso basta uma simples reflexão: com que propósito uma religião de tantos mártires teria resistido até os dias de hoje? A resposta é simples: nela existe um poder maior.

A Banalização
Em primeiro lugar, existe um legítimo anseio da alma muito evidente nos dias de hoje, pois a sociedade patriarcal conseguiu chegar a um ponto crítico. Porém, o descompromisso já está de tal forma enraizado nas pessoas que mesmo essa busca acaba maculada por um certo descaso. Em outras palavras: hoje em dia até as religiões podem ser vistas como livros numa prateleira. Com a mesma liberdade com que se lêem livros sagrados e ensinamentos secretos de outras tradições, também é possível encontrar manuais que trazem tudo sobre a religião Wicca (o nome moderno dado à bruxaria). E imbuídos do ranço do consumismo, acreditamos que nos entupindo de informações preencheremos nosso anseio de alma.
O erro de confundir realização do espírito com erudição é uma forma de banalização, uma forma masculina (inteligência racional) de dominar determinado assunto, de ler tudo a respeito e achar que isso é busca espiritual. A experiência mística é um dos maiores anseios do ser humano. Na verdade, a experiência do sagrado, a reverência à manifestação divina presente em todas as coisas e seres é mais do que um temer a Deus. É amá-lo.
Além disso, a bruxaria não se restringe meramente à prática da magia. Aliás, essa visão da bruxaria associada à magia e, em especial à magia negra, foi o fundamento de toda a perseguição que os feiticeiros sofreram. A origem inglesa da palavra ‘bruxa’, witch, é a mesma de ‘sábio’, wise, e isso representa uma diferença fundamental, pois a sabedoria não se ensina em manuais, nem se adquire em poucos meses.
Para um bruxo/a, a magia está presente em tudo e, antes de se pretender a praticá-la, é preciso reconhecê-la na Natureza, sintonizando-se com seus ciclos. Também é preciso resgatar o poder pessoal, o que é feito com disciplina e disposição de mudar velhos hábitos e renunciar às comodidades que as interferências externas propiciam. Sem esse poder pessoal não há como obter domínio sobre os elementos. É preciso muito merecimento para alcançar a graça dos seres que nos auxiliam e, quando isso é obtido, um cuidado ainda maior é preciso, pois seremos triplamente responsáveis pelos deslizes cometidos através da magia.
A bruxaria é uma religião sacerdotal e o aspirante precisa primeiro desenvolver a sabedoria. Também deve passar por diversos desafios e testes em sua vida pessoal, além de todo o aprendizado sobre as plantas, ciclos cósmicos e as leis vigentes nos três mundos em que deverá atuar. Após longo treinamento, a pessoa finalmente se encontra apta a ser iniciada. A verdadeira iniciação é conferida pela divindade, mas é celebrada num rito em que o bruxo se assume como tal e recebe as responsabilidades de sua posição perante os seres divinos e seus ancestrais. A mera freqüência a um curso, ou a participação em rituais, não gera nenhum iniciado. Isso também é uma banalização.

Resgate de Poder
Algumas pessoas alegam que a maior popularização favorece um maior esclarecimento, que quando todos tiverem acendido uma vela numa lua cheia já não se usará a palavra bruxa pejorativamente. Porém, existe algo mais sério por trás disso, que é o resgate do poder feminino e a cura da Terra.
Existem pessoas realmente ansiosas por se reconectarem com o divino, que trazem em sua bagagem espiritual a prática da bruxaria de outras vidas. Pessoas que, não encontrando meios sérios para se desenvolverem, acabam achando que até mesmo a Antiga Religião se corrompeu, e isso não é verdade.
O resgate do poder feminino é hoje uma urgência para a humanidade. As pessoas, inclusive mulheres, se perdem num ambiente competitivo, ganancioso e sem propósito, enganam-se com passatempos que vão de futebol a sexo, sem o real prazer, a verdadeira beleza, o envolvimento, o compromisso e a reverência.
Quando os valores reais são banalizados, a vida em si perde seu valor. Quando o aspecto feminino é depreciado, tanto homens quanto mulheres saem perdendo — as pessoas começam a neutralizar seus sentimentos, preocupando-se exclusivamente com realizações e ganâncias, em exercer poder sobre os outros. Para renegar seu próprio aspecto feminino o homem precisa se anestesiar com bebidas, drogas, excesso de trabalho, de sexo, etc, uma vez que, para fugir de seu anseio de se reconectar com o divino e se identificar com seu propósito de alma, é preciso se entreter com outras coisas, mesmo que sejam vazias e sem propósito.
A bruxaria oferece uma possibilidade de resgatar esse poder, desde que praticada de forma correta. Esse poder não é erudição, não é ter uma espada ou dominar outras pessoas, mas sim o resultado de uma parceria na qual a divindade concede a um ser humano a possibilidade de mediar seu próprio poder — o que só é obtido com muito mérito e não simples fórmulas. Tal poder só pode ser usado com sabedoria e, aliás, é esse o significado do Athame (punhal com dois gumes), símbolo de força que usamos para nunca nos esquecer de que o poder é uma faca de dois gumes.
Uma vida bruxal, coerente, por si só já é uma realização para qualquer bruxa. É poder enxergar a beleza em tudo, que é a manifestação divina. É perceber que estamos cercados de criaturas que nos amam e estão dispostas a nos auxiliar. É distinguir o real do efêmero neste mundo. É saber ouvir e ter consciência de que amar a natureza não é apenas plantar uma árvore, mas respeitar o ser que nela habita — é saber que, assim como nós, esse ser tem uma sabedoria própria, e merece viver e trocar sua experiência de vida conosco.

Os Riscos
Além da banalização — que rouba a possibilidade das pessoas realmente motivadas encontrarem um senso de direção e propósito, criando a idéia de que nada é de verdade —, temos outros riscos que dela decorrem:
1 – O risco de não ter nada sagrado, respeitado.
2 – A perda da fé e do senso de propósito.
3 – As práticas ritualísticas realizadas de forma errada podem acarretar respostas adversas do plano espiritual, que não gosta de desrespeito, como, por exemplo, atrair obsessores e outras entidades astrais.
4 – Perda do contato com o divino, perda da intuição, não mais receber sinais, avisos e orientações.
5 – O uso de magia para vinganças, acarretando a Lei Tríplice, lei do retorno.
6 – Quebra de defesas naturais contra ataques espirituais — ou seja, se alguém se intitula bruxo sem o ser, o plano espiritual pode deixá-lo órfão numa situação negativa para que aprenda a respeitar o que não conhece.
Quando se fala na banalização muitos perguntam se a auto-iniciação é uma forma de banalização. Isso depende. Com a dificuldade de se encontrar um coven, a auto-iniciação pode ser a única forma de se adotar a religião, porém, é um caminho mais árduo, pois sem uma supervisão os erros correm por conta própria. Os livros não esgotam todas as possibilidades dentro da atividade de um bruxo e, se este se auto-inicia, pretendendo ser um praticante solitário, terá de aprender sozinho. Com sorte, os seres que o auxiliam podem inspirá-lo em sonhos e visões, desde que seja coerente e dedicado.
O maior risco da auto-iniciação, contudo, é que ela inicia mesmo. As pessoas leigas pensam que ser iniciado é como se formar um doutor, algo que as autoriza a usar um nome de bruxo/a e ter atitudes exóticas. Porém, a iniciação é a entrega, o momento em que se assume um compromisso perante as divindades e os seres e, feita a iniciação, isso será cobrado, quer se esteja preparado ou não para o que tal comprometimento representa. A pessoa que não sabe o que esteja assumindo responde do mesmo modo como a que sabe e, se descumpre o prometido, é punida. Por essas e outras razões a banalização chega a ser algo quase criminoso, pois muitas vezes assumem-se compromissos que irão comprometer a pessoa por muitas vidas.
A magia está renascendo, sim, e já não era sem tempo. De um lado existe a crise num sistema que renegou o poder feminino e está sedento; de outro, há o renascer da antiga religião, que na verdade só estava esperando um espaço para ressurgir. E, em meio a essa situação, encontram-se pessoas que pretendem transformar o que pode ser um antídoto para uma crise mundial de valores num artigo de consumo, num modismo. Nós, bruxas, esperamos que aqueles que têm sede encontrem a fonte e que à vida seja dado seu real valor.
Que assim seja e assim se cumpra. Sejamos todos abençoados.

Marília de Abreu e Antônia Maria de Lima


Para Saber Mais:
Wicca Cia. das Bruxas
www.wiccaciadasbruxas.com.br

www.revistasextosentido.net/.../o-riscos-da-bruxaria/

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